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Clara e Portela: uma história de amor

Relação da cantora com a escola de samba, que este ano vai homenageá-la na Sapucaí, é contada em detalhes na biografia Clara Nunes, guerreira da utopia
Bela, talentosa e dotada de uma simpatia fora do comum, Clara Nunes foi uma das maiores intérpretes da música brasileira. Dona de uma voz radiante e cristalina, que lhe rendeu o apelido de Sabiá, lotou plateias, conquistou a indústria do disco e viu a mídia se render a seus encantos. Em 2019, sua vida e sua arte serão homenageadas na Sapucaí pela Portela, escola que a adotou e da qual é um grande ícone. “Mestiça, morena de Angola, sou eu / No palco, no meio da rua, sou eu / Mineira, faceira, sereia a cantar, deixa serenar”, diz o samba da azul e branco, que entra na avenida com desfile assinado pela carnavalesca Rosa Magalhães.
A relação de Clara com a Portela está narrada em detalhes em Clara Nunes, guerreira da utopia, do jornalista Vagner Fernandes. Publicada originalmente em 2007 e relançada agora em edição revista, a biografia aborda o assunto em momentos diversos: fala da tímida estreia da cantora na avenida, em 1971, dos seus encontros com a Velha Guarda, de sua adoração por Candeia. Revela também a influência da escola na carreira que ela viria a construir como sambista.
Para escrever o livro, que acompanha a trajetória da cantora desde a infância até a morte prematura, aos 40 anos, Fernandes esmiuçou uma ampla bibliografia e entrevistou mais de 300 pessoas, reunindo cerca de 400 horas de depoimentos. Ao todo, foram quatro anos de intensa pesquisa, que inclusive levaram o autor a percorrer lugares antes trilhados por Clara ― de Caetanópolis (MG), sua terra natal, ao popular bairro de Oswaldo Cruz (RJ), onde foi fundada a Portela. Além do texto saboroso, Clara Nunes, guerreira da utopia traz dois grandes cadernos de imagens, recheados de fotos das diversas fases da vida dessa inesquecível estrela da nossa música.
Abaixo, a letra completa do samba da Portela e algumas imagens das fantasias que a escola levará à avenida.
Na Madureira Moderníssima, Hei Sempre de Ouvir Cantar uma Sabiá
Autores do samba-enredo: Jorge do Batuke, Valtinho Botafogo, Rogério Lobo, Beto Aquino, Claudinho Oliveira, José Carlos, Zé Miranda, D’Souza e Araguaci
Axé... sou eu
Mestiça, morena de Angola, sou eu
No palco, no meio da rua, sou eu
Mineira, faceira, sereia a cantar, deixa serenar
Que o mar... de Oswaldo Cruz a Madureira
Mareia... a brasilidade do "Meu lugar"
Nos versos de um cantador
O canto das raças a me chamar
De pé descalço no templo do samba estou
É rosa, é renda, pra Águia se enfeitar
Folia, furdunço, ijexá
Na festa de Ogum Beira-mar
É ponto firmado pros meus orixás
Eparrei Oyá, Eparrei...
Sopra o vento, me faz sonhar
Deixa o povo se emocionar
Sua filha voltou, minha mãe
Pra ver a Portela tão querida
E ficar feliz da vida
Quando a Velha Guarda passar
A negritude aguerrida em procissão
Mais uma vez deixei levar meu coração
A Paulo, meu professor
Natal, nosso guardião
Candeia que ilumina o meu caminhar
Voltei à Avenida saudosista,
Pro Azul e Branco modernista... eternizar
Voltei, fiz um pedido à Padroeira
Nas Cinzas desta Quarta-feira... comemorar
Nossas estrelas no céu estão em festa
Lá vem Portela com as bênçãos de Oxalá
No canto de um Sabiá
Sambando até de manhã
Sou Clara Guerreira, a filha de Ogum com Iansã
Palavras-chave