Há exatos 70 anos, em 24 de maio de 1949, era publicado na França o primeiro volume de O segundo sexo, uma obra que mudaria para sempre a maneira como pensamos a mulher e o seu lugar na sociedade. O livro gerou muitas polêmicas e logo entrou na lista de títulos proibidos pelo Vaticano. Entretanto, fez um estrondoso sucesso junto ao público, fascinando leitores e leitoras, e já na primeira semana de lançamento atingiu a marca de 22 mil exemplares vendidos em seu país de origem.
Com uma investigação que mistura conceitos da psicanálise, filosofia, antropologia, história e outros campos do conhecimento, O segundo sexo se tornou uma bíblia para o movimento feminista e colocou o nome de Simone de Beauvoir (1908-1986) entre os das grandes pensadoras do século XX. No volume inicial, intitulado “Fatos e mitos”, a autora se propõe a examinar os desequilíbrios de poder que se estabelecem entre os sexos. Já em “A experiência vivida”, o volume dois, que chegaria às livrarias ainda em 1949, avalia como a mulher é compreendida no casamento, na maternidade, na vida social, na maturidade e na velhice.
Para celebrar os 70 anos do ensaio revolucionário de Beauvoir, que mantém, ainda hoje, seu enorme impacto, a editora Nova Fronteira preparou uma edição especial da obra. Em um box de luxo, os dois tomos que compõem O segundo sexo vêm acompanhados de um livreto com análises atuais das ideias da escritora francesa. Além de textos assinados pela historiadora Mary Del Priore, pela antropóloga Mirian Goldenberg e pelas filósofas Djamila Ribeiro e Marcia Tiburi, o volume, ilustrado com fotos históricas de Beauvoir, inclui uma entrevista com sua filha adotiva e editora Sylvie Le Bon de Beauvoir.
Veja abaixo os que as quatro autoras brasileiras falaram sobre a obra de Beauvoir
“Enquanto homens e mulheres não se reconhecerem como iguais não poderão viver plenamente sua liberdade. (...) A maior lição que O segundo sexo deixa para as novas gera-ções é a de que querer ser livre é também querer que os outros se¬jam livres. Afinal, homens e mulheres não nascem livres: tornam-se livres.”
Mirian Goldenberg
“Baseada em rigorosa pesquisa acadêmica, a obra avançou teses inovadoras: atacou violentamente a ordem sexual dominante, pregou a liberalização da contracepção e do aborto, reabilitou a homossexualidade feminina, denunciou a violência das relações entre gêneros e desmontou os mitos do instinto materno, da feminilidade e da maternidade. Foi a primeira vez que uma mulher reivindicou seus direitos através de um livro dessa forma”.
Mary Del Priore
“[Este livro] deveria ser lido não apenas por feministas, mas por mulheres, homens e todas as pessoas que, de um modo ou de outro, estão marcadas pela questão de gênero. E isso porque se trata de um livro básico, que nos ensina a pensar sobre as desigualdades e os privilégios de gênero, aqueles que experimentamos como os mais naturais sem perceber como nos marcam e nos fazem sofrer”.
Marcia Tiburi
“Quando o livro foi publicado, era inimaginável para os homens da intelectualidade, progressista ou conservadora, que uma mesma obra fosse refletir sobre a situação da mulher e desafiar cânones como Freud, Marx e a biologia. (...) O furor foi tamanho que setenta anos depois ainda se estuda o impacto desse livro que foi para o Index da Igreja Católica e proibido em países como Portugal e Rússia. Seja como for, a trajetória, o rigor e o brilhantismo do trabalho de Simone de Beauvoir em O segundo sexo foram capazes de responder a todos que não souberam suportar a vanguarda”.
Djamila Ribeiro
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